Rua das Mercês,
esquina com Rua de Baixo e Grande – centro – Alcântara-Ma
Séc. XIX – Tombamento
federal
Chegar à Praça da Matriz de Alcântara significa adentrar ao coração da
cidade, onde se manifesta, segundo Olavo Pereira, uma das mais fortes expressividades
da experiência colonial brasileira, e maranhense em particular. Local
resignificado por ocupações sucessivas,
seu enigmático mosaico de peças compreende a dimensão multifacetada do processo
de colonização. Suas relações e sujeitos sociais. Muito mais que uma disposição
urbanística diferenciada, a praça ladeada por elegante conjunto arquitetônico
deve ser entendida como o lócus do acontecimento social da cidade, análogo à
Plaza Mayor das cidades hispânicas. Alcântara não tem exclusividade neste tipo
de conformação urbanística, repetida em outras cidades coloniais brasileira
sendo uma das funções deste espaço o de ratificar o poder do governo,
representado sempre por edifícios como o Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Em
Alcântara, a Casa de Cadeia e Câmara exerce este papel complementado pelo
Pelourinho, possivelmente único exemplar do tipo no Brasil. A construção de
ambos obedecia à exigência de elevação do Arraial de Tapuitapera à categoria de
vila.
A metáfora da “presença da
ordem” por estes elementos representada foi tão marcante, que, após a
abolição da escravatura, relatava a escrava Dona Calú. Que um levante dos
negros libertos arrancara o pelourinho e a ele dera penoso fim. Mais
comovente ainda é a forma que, perdido
desde 1888, a mesma senhora enquanto detentora de mais recôndito segredo, às
vésperas do tricentenário da cidade revela o local exato onde foram sepultadas
as três partes nas quais fora quebrado. Apaziguada as lamúrias do tempo de
senzala e diante do valor cultural que se incorpora àquela peça, o pelourinho
renasce, redescoberto enterrado diante da portada da antiga Matriz de São
Matias. Restaurado e colocado em seu local de origem reintegra-se ao conjunto
dotado de novos signos. Expõe esbelta coluna de cantaria, tendo na parte
superior trabalho em relevo lembrando uma grande coroa em ornamentação
manuelina de decoração minuciosa,
incluindo brasão marmoreado português.
Ainda hoje a Praça da
Matriz preserva funções de irradiadora dos fluxos e centralizadora da dinâmica
alcantarense. Neste espaço, como a Prefeitura e Câmara de vereadores, Cartório,
Museus e Fórum Municipal. A percepção atual de suas dimensões amplia-se, uma
vez que antigamente a Matriz ocuparia porção significativa de sua área. Este
vazio reforça a horizontalidade marcada por seu homogêneo conjunto de edifícios
quebrado apenas pelas ruínas e pelas imensas árvores, igualmente centenária,
convidando o potente azul celeste equatorial a deixar sua função coadjuvante de
fundo, para ocupar posição de figura na composição da paisagem urbana, numa
eterna negociação de azul, a que se refere o poeta José Chagas.
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