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sábado, 9 de março de 2013

PRAÇA DA MATRIZ DE SÃO MATIAS

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Rua das Mercês, esquina com Rua de Baixo e Grande – centro – Alcântara-Ma

Séc. XIX – Tombamento federal

Chegar à Praça da Matriz de Alcântara significa adentrar ao coração da cidade, onde se manifesta, segundo Olavo Pereira, uma das mais fortes expressividades da experiência colonial brasileira, e maranhense em particular. Local resignificado por  ocupações sucessivas, seu enigmático mosaico de peças compreende a dimensão multifacetada do processo de colonização. Suas relações e sujeitos sociais. Muito mais que uma disposição urbanística diferenciada, a praça ladeada por elegante conjunto arquitetônico deve ser entendida como o lócus do acontecimento social da cidade, análogo à Plaza Mayor das cidades hispânicas. Alcântara não tem exclusividade neste tipo de conformação urbanística, repetida em outras cidades coloniais brasileira sendo uma das funções deste espaço o de ratificar o poder do governo, representado sempre por edifícios como o Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Em Alcântara, a Casa de Cadeia e Câmara exerce este papel complementado pelo Pelourinho, possivelmente único exemplar do tipo no Brasil. A construção de ambos obedecia à exigência de elevação do Arraial de Tapuitapera à categoria de vila.
         A metáfora da “presença da ordem” por estes elementos representada foi tão marcante, que,   após a abolição da escravatura, relatava a escrava Dona Calú. Que um levante dos negros libertos arrancara o pelourinho e a ele dera penoso fim. Mais comovente  ainda é a forma que, perdido desde 1888, a mesma senhora enquanto detentora de mais recôndito segredo, às vésperas do tricentenário da cidade revela o local exato onde foram sepultadas as três partes nas quais fora quebrado. Apaziguada as lamúrias do tempo de senzala e diante do valor cultural que se incorpora àquela peça, o pelourinho renasce, redescoberto enterrado diante da portada da antiga Matriz de São Matias. Restaurado e colocado em seu local de origem reintegra-se ao conjunto dotado de novos signos. Expõe esbelta coluna de cantaria, tendo na parte superior trabalho em relevo lembrando uma grande coroa em ornamentação manuelina de decoração  minuciosa, incluindo brasão marmoreado português.
         Ainda hoje a Praça da Matriz preserva funções de irradiadora dos fluxos e centralizadora da dinâmica alcantarense. Neste espaço, como a Prefeitura e Câmara de vereadores, Cartório, Museus e Fórum Municipal. A percepção atual de suas dimensões amplia-se, uma vez que antigamente a Matriz ocuparia porção significativa de sua área. Este vazio reforça a horizontalidade marcada por seu homogêneo conjunto de edifícios quebrado apenas pelas ruínas e pelas imensas árvores, igualmente centenária, convidando o potente azul celeste equatorial a deixar sua função coadjuvante de fundo, para ocupar posição de figura na composição da paisagem urbana, numa eterna negociação de azul, a que se refere o poeta José Chagas.

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