Pages

Banner 468 x 60px

 

sábado, 23 de março de 2013

PARA REFLETIR E AGIR

0 comentários


Escrevo esta carta com uma profunda amargura arrependimento. Estou sobrevivendo em condições precárias, em um mundo caótico, dominado pela fome, miséria, crime e desespero.

Hoje sou uma das pessoas mais idosas da minha comunidade, e tenho apenas 55 anos, mas a minha aparência é de alguém de 90 anos. A média de idade é e apenas 35 anos.

Respiramos um ar envenenado e nosso alimento e 90% sintético. Muitas crianças jamais viram uma fruta.

Recordo quando tinha 10 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas flores, rios e vales verdejantes. As casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um longo banho de chuveiro. Agora usamos toalhas embebidas de azeite mineral para limpar a pele.

Antes, as mulheres podiam mostrar as suas formosas cabeleiras. Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem água.

Antes, meu pai lavava o carro com a água que saia de uma mangueira. Hoje, as crianças não acreditam que utilizávamos a água dessa forma. Duvidam quando dizemos que algumas pessoas varriam calçadas e davam descargas em vasos sanitários com água potável. As piscinas são uma mentira, para elas.

Recordo que os ambientalistas diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção. Eram chamados de ecochatos, impediam o “progresso”. Agora todos os rios, barragens, lagoas e lençóis subterrâneos estão irreversivelmente contaminados e esgotados.

Por falta de água e rede de esgoto não funciona. O ar atmosférico é pútrido e nauseante. As doenças renais, as infecções gastrointestinais e as enfermidades da pele são as principais causas de morte. Com o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 50.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário.

Antes, a quantidade de água indicada como ideal para se beber eram oito copos por dia, por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo.

Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água. O oxigênio disponível na atmosfera foi drasticamente reduzido por falta de árvores. As novas gerações têm baixo coeficiente intelectual devido à escassez de oxigênio e de alimentos.

Alterou-se a morfologia dos espermatozoides de muitos indivíduos. Como consequência, há muitas crianças com deformações e insuficiências.

O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m³ por dia por habitante adulto Quem não pode pagar é retirado das “zonas ventiladas”, dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode respirar.

Em alguns países restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Com frequência há violência pela posse de água.

Aqui não há árvores porque nunca mais chove. E, quando chega a ocorrer uma precipitação é de chuva ácida.

As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas e pela poluição das cidades e das indústrias do séc. XX. Imensos desertos constituem as paisagens que nos cercam.

Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém ouviu. A prioridade era ganhar dinheiro e comprar coisas. Destruíam as florestas dizendo que era para criar empregos e trazer progresso.

Quando minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo como eram belas as paisagens. Falo da chuva e das flores, do ar puro, da água cristalina, do prazer de tomar um banho em uma cachoeira e poder pescar nos rios e lagos, beber toda água que quisesse. O quanto nós era-mos saudáveis!

Ela perguntou-me: - Papai! Por que a água acabou?

Então sinto um nó na garganta! Não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que destruiu o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos apelos.

Sinceramente, creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria de voltar no tempo e fazer com que toda humanidade entendesse isso. Deixasse de ser tão ignorante e pudesse mudar as coisas, enquanto ainda é possível.


De texto público, publicado na Revista Crônicas de Los Tiempo, Chile 2002. 

0 comentários:

Postar um comentário