Tradicionalmente, conferem-se aos meios as funções de formar, informar e divertir. A formação, consequência direta da transformação, por sua própria natureza significa configurar e, por tanto, criar ideologia, a partir do ponto de vista do emissor e, no caso desses meios, utilizando recursos comunicativos nem sempre identificáveis pelo receptor. Esse fato, unido à impossibilidade de gerar uma informação neutra, nos permite traduzir “formar” por “manipular”, sem que a utilização deste termo prejudique qualquer tipo de intenção dos emissores.
Um objetivo inicial da formação a partir dos meios deveria ser: revelar alguns de seus elementos expressivos, a forma como são construídos e suas funções – buscando desmistificar tanto o próprio meio quanto os seus comunicadores. Esse objetivo não deve ser confundido com algo que, nos últimos tempos, tem sido uma presença permanente em alguns programas populares de televisão; mostrar a realização do próprio programa, revelando algumas cenas que foi necessário repetir por uma razão qualquer e incluindo cenas dos bastidores. Essas inserções não respondem a critérios de formação, uma vez que não procuram desmistificar ou mostrar as entrelinhas da realização, mas apenas respondem às demandas do mercado.
Por outro lado, levemos em consideração que “a leitura é uma habilidade difícil e é aprendida com esforço; enquanto que sentar-se para assistir televisão não requer esforço nenhum. Por isso, os que se utilizam exclusivamente desse meio não apenas são menos aptos para acompanhar a complexa argumentação que surge num texto escrito, mas também, em realidade, não entendem por que as coisas precisam ser tão intricadas, complicadas e difíceis como se apresentam nos meios impressos. O radicalismo das tecnologias de comunicação não provoca apenas transformação nos usos populares e nas práticas econômicas, mas também na consciência” (Kerman, 1994).
Quero terminar dizendo que os meios de comunicação não são nem bons nem maus (o que seria puro maniqueísmo). Simplesmente são o que são, e é preciso formação para conviver com eles. Assim como fazemos com muitos outros instrumentos ou tecnologias que não nos agradam. Não é legitimo dizer que a bondade ou a maldade se situa no seu uso. Os meios têm uma forma tecnicamente correta de serem utilizados, e é assim que devemos empregá-los.
Como consequência dessa configuração técnica, os meios geram uma influência cultural, à margem da cultura própria dos cidadãos. Tal influência constrói uma nova sociedade, na qual a riqueza da diversidade cultural se encontra ameaçada e que tende a ter uma sociedade padronizada, que responde a valores de significação idêntica. Esperamos que os novos desenvolvimentos científicos favoreçam a diversidade cultural permitida pela tecnologia e que os sistemas educacionais desenvolvam programas de atuação que possibilitem aos cidadãos a tomada de decisões pessoais, tanto em relação aos meios quanto ao significado de suas mensagens.
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