“Parece que o anjo supremo
entre os que pecaram não era o
supremo de todos”. Santo
Tomás de Aquino na Suma Teológica (I, q. 63, art. 7)
Já partindo da
pressuposição católica de que Lúcifer era o superior dentre todos os Anjos.
“Do anjo [mau] se diz em Ez. XXVIII, 14: Eras um querubim protetor
de asas abertas. Estavas na alta montanha de Deus e passeavas entre pedras de
fogo. Ocorre que a ordem dos querubins é inferior à dos serafins, como afirma
Dionísio em sua Hierarquia Celeste (c.7). Logo, parece que o anjo
supremo entre os que pecaram não era o supremo de todos”.
Na Sagrada Escritura, muitas vezes o nome se
refere à operação ou função do Anjo. Assim, o texto bíblico, ao indicar que o
demônio caído era um querubim (Ex. XXVIII, 14), aborda um aspecto específico, a
saber: os querubins são assim denominados, de acordo com a tradição bíblica,
pela plenitude de ciência, ao passo que os serafins são os que
estão abrasados pelo amor divino. Ora, quem tem ciência pode
pecar, mas não o pode quem está abrasado pelo amor Divino. Por esta razão,
o nome “querubim”, nesta passagem de Ezequiel, designaria exatamente o que
tinha a plenitude da ciência, mas sem estar abrasado pelo amor divino. Isto
quer dizer que Lúcifer (o mais elevado de todos) é ali designado tão somente
pelo que lhe restou, após o pecado: uma grande ciência, sim, mas inflada pelo
orgulho e pela vaidade, porque não era abrasada pelo amor de Deus.
Isto considerado,
Santo Tomás nos leva a concluir que, se fosse um querubim, Lúcifer não
seria o mais elevado de todos, e na Escritura ele é designado como
querubim para mostrar os despojos ontológicos em que jaz, a partir de sua
hedionda revolta contra o Criador: uma sabedoria obstinada na soberba, no ódio,
na inveja.
Deus, Ato Puro sem mescla de potência, é omnisciente: conhece absolutamente tudo
num só ato, contemplando a Si mesmo e as coisas que criou, pois n’Ele Ser e
conhecer identificam-se em grau máximo;
O
serafim mais elevado conhece as coisas com menos atos
intelectivos do que os Anjos de ordens inferiores, os quais têm em sua
inteligência infusa formas inteligíveis menos universais. Portanto, os serafins
são os Anjos cujas ideias estão mais próximas das ideias da mente Divina. Este
grau de universalidade das espécies infusas angélicas diminui
progressivamente, indo do mais elevado serafim ao mais modesto Anjo custodiador
(ou da guarda);
O
homem, criatura cujo Ser,
potências e operações são muitíssimo mais limitados, tem um conhecimento das
coisas incomensuravelmente menor — tanto intensiva quanto extensivamente.
Conhece, com muitíssimos atos intelectivos (ou seja, com grande esforço),
apenas alguns aspectos do real, dado o caráter abstrativo de sua parca
inteligência. E mais: o seu conhecimento pode crescer pela
investigação, ou perder-se pelo esquecimento, por problemas de ordem
psicológica, etc. Por isso o Doutor Comum afirma, no começo da Suma Contra
os Gentios, que entre nós e os Anjos há uma distância muitíssimo maior do que a
existente entre nós e os animais irracionais.
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